viernes, 15 de diciembre de 2023

VALÊNCIA ÀS PORTAS DO NATAL

 


AS CORES DO NATAL

É Natal! 

Dita-o a natureza.

O verde converteu-se em ouro. 

Folhagem dourada pelo tempo

Enche o caminho de ocres.

São lágrimas caídas do céu

Enchendo-nos de riquezas

Naturais, como elas mesmas.

Provocando emoções

Que o meu coração encolhe...





É NATAL

 

Celebramos o nascimento
De Jesus o Deus menino,
Que aos Homens deu alento
E mudou o seu destino.


Trouxe uma mensagem de paz
De amor, de igualdade. 
É a magia do Natal
Vivida nessa realidade.


Vivemos esta magia.
Unidos em comunhão
Com os amigos, e alegria

Com alma e coração.


Saboreando o manjar
Do bacalhau, essa magia!
Regado com uma boa pinga,
As rabanadas e a letria.


A família e os amigos
Relembram outras jornadas.
O rapa, tira, põe e deixa.

E aqueles contos de fadas!


À volta do pinheirinho
A sonhar sem uma queixa.
No despertar de mansinho
E ver o que o Pai Natal deixa.


Na magia do Natal,
Uma família unida.
Com pais, filhos e avós
A perpetuar a vida.







Do Natal da minha infância ficaram gravadas certas vivências que, por tão simples e tão ricas em valores familiares, amealhei, tornando-se inolvidáveis. Noites escuras e frias, forte ventania (parecia que afeitava sem sabão, se queixava o meu avô), uma chuva impertinente que molhava até aos ossos. Para compensar, passar um bom bocado em frente da lareira; ardia bem a madeira, elevando as línguas de fogo que lambiam a frialdade da noite. Apetecia aquecer o corpo, tão castigado pelo vento que atiçou desde o Noroeste sem piedade, como diziam os pescadores de Angeiras, as nortadas. 

Outras vezes, quando passava mais tempo do devido nas minhas brincadeiras, entrava em casa gerido de frio buscando o calor do lar. Ao aproximar-me via como o fumo se esgueirava pelas telhas, significava que o meu avô já tinha escolhido o melhor sítio ao pé da lareira, o prémio justo pelos muitos anos vividos com dureza, como agricultor e como lenhador. Dentro da casa, esse cheiro agradável a lenha e a resina ardendo. Fora, na escuridão, apenas se divisavam as sombras dos pinheiros e dos eucaliptos na bouça mais próxima. O vento mantinha o seu diálogo com a noite, de sussurros, mugidos e prantos, que tanto me impressionavam. Entretanto o corpo começa a aquecer, a chuva seguia caindo e o vento não deixava de esticar-se arranhando os muros, desgranando as árvores e sacudindo os fios da água das telhas. Tudo isto observado através dos vidros aos quadradinhos da porta da cozinha, com o calor da lareira, e sentindo o repicar das gotas da chuva na chapa do alpendre. Fez-se inolvidável, inesquecível, um dos prazeres que me proporcionou a natureza naquele Natal. 

Por fim, a minha mãe e a minha avó fizeram-se com as panelas de três patas, negras por fora e saborosas por dentro. Quando chegou o meu pai, sempre o mais atrasado, a ceia não demorou em marcar a sua presença, era a ceia da véspera do Natal, a consoada. Batatas com bacalhau e pencas, tudo condimentado com estrugido, marcado pelo sabor peculiar dos cominhos. Depois vinham as rabanadas, a aletria e um pouquinho de vinho do Porto; entretanto o meu avô e o meu pai bebiam vinho quente com ovo, estaria bom? Tivemos que deitar-nos cedo, pois o Pai Natal estava rondando e não nos queria ver pelo meio. Chegou o dia de Natal, levantei-me inquieto, mas esperançado, tinha deixado os meus socos debaixo do pinheiro e tinha-me portado bem. Aquela manhã caminhei ansioso para o pinheiro, mas decidido, para ver o que me tinha deixado. Com as pressas o Pai Natal atirou ao chão alguns adornos, menos os chocolatinhos que a minha mãe tinha pendurado cuidadosamente das ramas do pinheiro, e que comíamos quando o desmontávamos. Todos estávamos muito contentes, mas a minha irmã e eu estávamos radiantes de felicidade; até tínhamos um conto da menina do capuchinho vermelho em pano, que bonito! Era dia de Natal, mas, tanto para a Maria como para mim, o mais importante tinha passado, o realmente mágico tinha enchido as nossas vidas de ilusão. 

De novo a família toda reunida ao redor da mesa adornada para tal fim, donde não faltava de nada, nem as lambarices que tanto gostava, sempre tão bem elaboradas pelas mãos mestras da minha mãe. Assim como o bolo rei, que com o bacalhau e o peru, ou o capão, são imprescindíveis na mesa dos portugueses no Natal. 

Uma das tradições mais arraigadas do Natal consistia em cantar de porta em porta as janeiras, empregando letras ancestrais e música criada com os instrumentos mais rudimentares que tínhamos à mão. Aquela noite, a minha irmã e eu, lançamo-nos à rua cantando os versos aprendidos dos nossos antepassados, e o que encontramos para fazer ruído: pinhas secas, garfos e panelas. Visitamos aos vizinhos, desejamos-lhes um bom Natal e cantamos-lhes o nosso repertório.  Alguns pediram-nos que repetíssemos para poder presenciá-lo mais de perto. Tudo correu ás mil maravilhas e tivemos uma boa consoada, que nem demos conta do frio que fazia. O que ainda recordo versava assim:         

 

Boas Festas, Boas Festas,

Boas Festas vimos dar

Aos senhores desta casa

Se nos querem escutar.

 

Vamos pastorinhos 

Vamos a Belém 

Adorar o Deus Menino

E à Virgem Mãe

 

Vimos dar as Boas Festas

A estes nobres senhores

Pois nasceu o Deus Menino

Em Belém entre pastores.

 

Refrão

 

Vimos cantar as Janeiras

Por isso nos estão a ouvir

Para alegra-lhes a noite

E para nos divertir…

 

Refrão

 

A senhora desta casa

É bonita e corada 

Mais bonita ela era

Se nos desse a consoada.

 

Refrão




REFLEXÃO AO NATAL

 

Lamento ter que o dizer, 

Nada daquilo que hoje vejo 

representa o Natal que vivi,

Estou longe desse modelo.

Se não fosse assim mentiria,

seria perfídia!...

Desejo saúde e boa harmonia.

Viva o Natal com alegria!






30 comentarios:

Eugénio Tavares dijo...

Como sempre as fotos são muito bonitas!
Sobre o tema é algo que me trás recordações na minha infância, num tempo que o consumismo era quase inexistente, pelo menos ao nível que hoje assistimos.
O Natal é uma época que cria um grande impacto emocional nas pessoas, seja elas crianças ou idosos, no fundo, é ponto alto da união das pessoas e das famílias.
Estar com as pessoas de quem gostamos é um bálsamo importante para a vida diária, pois traz-nos a alegria de sermos bem acompanhados e apoiados.
É isso o espírito natalício que eu gosto e fui criado.
Inflizmente, este sentimento vai desvanecendo e o que hoje assistimos é um consumismo desenfriado, já nem as crianças têm o direito de sonhar com o "Pai Natal", por todo lado são "bombardeadas" com anúncios de presentes, os pais vão aos Centros Comerciais para elas escolherem as suas prendas, enfim, uma sociadade cada vez mais desumanizadas e egocêntrica, esquecendo a solidariedade e para a partilha.
Aproveito para desejar um Santo e Feliz Natal a todos que participam neste blog!
Abraços de vida. 🤗

Rosa dos Ventos dijo...

Belos poemas, belas recordações, belas fotos!
Boas Festas!

Abraço

Justine dijo...

Valencia é uma cidade cheia de vida, de cor, de movimento.
E tu, cheio de poesia!
Boas Festas!

Duarte dijo...

Eugénio,
por isso a minha reflexão no final do exposto. Como mudou tudo! Então era quase limitado ao núcleo familiar e amigos mais íntimos.
Um comercio desmedido, uns preços que alcançam cifras disparatadas, com o sem razão de ser, mas a malta compra seja ao preço que for. Tudo isto, porque é Natal. E aqui alonga-se até Reis!
Pode que tudo seja fruto desse impacto emocional, mas as algibeiras em alguns casos ficarão esgotadas. Pois não é só a alimentação, estão as prendas.
Bom, que pelo menos seja um Bom Natal com boa saúde.
Grande abraço de vida.

Os olhares da Gracinha! dijo...

Belas escolhas!
Boas festas 🙏🧑‍🎄👏😘

Duarte dijo...

Rosa,
BELAS PALAVRAS!
Gostei de saber de TI.
Boas Festas.
Abraço

Elvira Carvalho dijo...

Belíssimo post, não só pelas imagens, mas pelos poemas e em especial, pela emoção que nos provoca o relato das suas recordações do Natal de infância.
Adorei.
Abraço nosso para vós, e os mais sinceros desejos de que tenham um Natal muito feliz.

São dijo...

Te felicito pelo belo post.


Desejo para ti e quem amas alegre quadra festiva, Natal de paz e amor e feliz 2024.

Fuerte abrazo, amigo mio.

Duarte dijo...

Zé,
ante umas palavras assim, deixas-me sem argumentos. Obrigado.
Valência, enamora, estou aqui cinquenta e cinco anos e sinto-me a gosto, sou feliz.
Escrevo aquilo que sinto, talvez por isso sai do teu agrado.
Boas Festas, com um grande abraço de vida.

Jovem Jornalista dijo...

Quero muito visitar! Lugar incrível e bastante bonito!

Boa semana!

O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!

Jovem Jornalista
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Até mais, Emerson Garcia

Majo Dutra dijo...

Etimado Amigo, as suas publicações continuam muito belas e irradiam sempre poesia...
Ainda estou recuperando a minha saúde..
Desejo-vos um Feliz Natal e um Ano Novo com esperança de paz mundial.
Abraços de boa amizade. 🌟
~~~~~

Duarte dijo...

Gracinha,
agradeço a tua opinião, querida amiga, pois para mim também o são.
Beijinhos e Boas Festas.

Duarte dijo...

Elvira,
Estive indeciso, é um fragmento do meu livro "Recordar é viver", porque faz parte dum passado esquecido no tempo. Se é do teu agrado, eu tão feliz.
Bom quase tudo faz parte daquele então, excepto a reflexão. Sim, nada tem que ver o Natal de hoje com o daquele então.
Obrigado, o mesmo vos desejamos, incluida a Turma.
Grande abraço de vida e um Bom Natal.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira dijo...

Boas Festas amigo Joaquim.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Duarte dijo...

São,
obrigadinho, pelo menos vou tentando fazê-lo bem.
Que tão boas intenções se façam realidade também para TI, querida amiga.
Grande abraço de vida para uma Boas Festas.

Maria Rodrigues dijo...

Uma publicação sublime para receber o Natal.
Meu amigo, desejo para si e sua família um Feliz Natal 🎄 e um Bom Ano Novo 🎉
Beijinhos

Duarte dijo...

Emerson,
Aparece, estarei encantado de poder acompanhar a descubrir as maravilhas desta terra.
Grande abraço de vida

Duarte dijo...

Majo,
agradeço a tua presença e desejo as tuas melhoras, numa rápida recuperação.
Um novo ano e uma recuperação TOTAL.
Um forte abraço de vida

Duarte dijo...

Francisco Manuel,
desejo que as vossas também estejam sendo boas.
Abraço

AMALIA dijo...

La Navidad trae hermosos recuerdos de otros tiempos tan entrañables.
Muy bonitas tus letras.
Te deseo una hermosa y Feliz Navidad.
Un abrazo.

Tais Luso de Carvalho dijo...

Olá, Duarte, que linda postagem, com ótimo texto
e imagens muito lindas.
É claro que não é mais o Natal da nossa infância,
sentimos o comercio comandar à exaustão suas vendas,
e isso acho de muito mau gosto, é vender e vender!
Falta aquele molho de tempos atrás! Aquele Papai Noel
muito diferente em que as crianças tinham muito carinho.
Sei que é um sonho, mas nós ficamos sem ele... Agora é só a realidade.
Mesmo assim, amigo, a reunião de família foi ótima, as brincadeiras
também. Restou isso, a confraternização.
Agora desejo a você e sua família um 2024 com mais paz, muita saúde e felicidade. Mais paz para o mundo!
Beijo!

Pedro Coimbra dijo...

Que te vaya bien!
Um abraço, bom resto de semana

Duarte dijo...

Maria Rodrigues,
foi aquilo que me inspirou.
Desejo-te um BOM 2024
Beijinhos

Duarte dijo...

Amália,
así es, querida amiga, que he querido dar a conocer.
Gracias por tus afectos.
Un gran abrazo de vida y un muy FELIZ 2024.

RÔ - MEU DIÁRIO dijo...

Seu blog é muito interessante. Estou seguindo já. Feliz ano novo. Bju

Duarte dijo...

Tais,
tudo aquilo que expões coincide com o meu pensar.
As ilusões da inocência foram quase suprimidas e o pai Natal já não veste igual, nem provoca emoções.
Sim, tivemos um Natal em Família e, em casa, pelo menos fizemos os possíveis para viver momentos felizes.
Também para ti um BOM 2024.
Abraço de vida

Duarte dijo...

Pedro,
estamos nessa linha!
Bom Domingo e um 2024 pleno de saúde e grandes êxitos.
Abraço de vida

Duarte dijo...

RÔ,
feliz pela tua visita e aparece sempre.
Um Bom 2024, com um forte abraço de vida

Tais Luso de Carvalho dijo...

Feliz entrada para 2024, amigo Duarte!
Que seja um ano de muita paz, saúde e
mais alegria em nossas vidas!
Beijo, e o abraço de vida! 🌹🙏🌻🥂

Duarte dijo...

Tais,
obrigado. Que aquilo que expressas se faça realidade e para ti também saúde e PAZ.
Um forte abraço de vida e beijinhos