martes, 22 de diciembre de 2009

AO MEU PORTO ( V )






A nostalgia do passado leva-me até Massarelos, para ver os bacalhoeiros, ou as obras da ponte da Arrábida, ou um pouco mais longe ainda, para ver um barco encalhado no Cabedelo, na Foz, ou no Castelo do Queijo; nada disso está, nada disso vejo. As cheias já não fazem estragos. Quantos sustos nos deu o nosso Douro! Talvez por isso, por ser “douro”, quanto nos custou! Tudo tinha o seu encanto, até a tragédia.

Recordo uma cheia que pude presenciar em Massarelos: o poder devastador do rio, na confluência com o oceano, ao enfrentarem-se as duas forças, provocou uma corrente fortíssima de água que fez saltar os paralelepípedos da rua: saíram disparados como balas de canhão.

Na Foz, a proximidade do mar convida a passear, ou a tomar um refrigério, placidamente, num dos seus multíplices pontos de encontro, com diversão ou sossego, de tudo há. Aqui a paisagem é cativante e de metamorfoses constantes, todas no tom e do som que nos dá o Oceano.

Ondas que se desfazem sobre a praia, ou contra o cais, com uma espécie de ternura violenta; são a invasão dum sem fim de experiências, todas elas vividas intensamente; recordações dum tempo ido que faço que perdure.








Do outro lado o progresso: tudo são grandes avenidas e passagens a distintos níveis. Isto veste muito para os de fora, faz-nos mais europeus, mas não quero partilhar-te! Bom, para não pecar de egoísta deixarei que te contemplem, mas sem que te desgastem mais daquilo que observo em alguns sítios.








Fora da urbe a noite cai como uma persiana preta. Nos dias de canícula só se ouvem as rãs e os grilos, que, como também tem calor, ventilam-se; eis o resultado de tanta algazarra.

No fim das tarde do Outono as sombras alongam-se uniformizando tudo. As noites brumosas, são, sem duvida, noites de Outubro.






A temperatura ambiente já não convida a longos passeios, mas sim a fazer alguma visita cultural. Os Museus, arquivos fiáveis de tudo o que de bom tens como património intelectual, testemunho do legado que te deixaram os nossos antepassados, aguardam a nossa presença. O Soares dos Reis é duma visita anual obrigatória. Não posso estar muito tempo sem contemplar a “Flor Agreste”, essa expressão infantil, cândida, terna; nem o “Desterrado”, faz-me recordar a obra doutro génio, Rodin, mas com umas formas mais perfeitas, aparentemente mais trabalhadas: ainda que se diga que o mármore de Carrara ao sair da marmoreira é mais brando. Este grande artista nunca foi bem aceitado pela sociedade do seu tempo, sendo como foi uma pessoa extraordinária e, mesmo morrendo novo, deixou-nos um grande espolio de transcendência escultórica.















Existem outros pontos que também são de uma visita obrigada e, como tal, sempre que posso esgueirar-me, não deixo de visitar o Palácio da Bolsa, com o seu esplêndido salão árabe como exponente máximo; a gare da estação de São Bento, para contemplar a arte expressa nos azulejos das paredes; a igreja da Lapa, que retém o coração do Rei que o ofereceu ao Porto, Dom Pedro; a talha dourada da igreja de São Francisco; o museu etnográfico, e nele a evolução da vida dentro de ti como cidade, o primeiro que visitei quando ainda estudava no Gomes Teixeira; as capelas da Sé, especialmente a que está talhada em prata; a ornamentação da igreja de Santa Clara, de magnifica talha dourada; passear da Foz ao Castelo do Queijo e receber na cara a brisa do Oceano. Entro por Ti dentro, enchendo-me de Ti.















Um coração nostálgico, e portuense, sente-se feliz rodeado de bons amigos. Para que juntos possam recordar o felizes que foram e que seguirão sendo, motivados em continuar a descobrir esses velhos recantos cheios de encanto que Tu tens. Com um copo na mão, dum bom Porto, tudo se faz mais prazenteiro, e se a dona saudade bate à porta será bem-vinda, pois será mitigada com o excelente caldo que os vinhedos da nossa terra deu, e que as mãos dos nossos paisanos cuidaram, ao extremo de poder conseguir que sigamos sendo um pouco mais felizes ainda, mantendo acesas as chamas dessas velhas tertúlias e tradições.
O estrangeiro que passa por aqui, um corre caminhos e cidades, sempre cheio de pressa, que vai dum museu ao outro, não suspeita da presença dum mundo diferente que rodeia sem dar fé de que está aí. Nunca pretendi conhecer uma cidade vendo postais, tenho que perder-me nela.







Fui feliz no deambular pelas tuas ruas tentando orientar-me, pretendendo descobrir donde estava. A alma duma cidade não se deixa captar tão facilmente. As cidades são livros que se lêem com os pés. Para poder-se comunicar com ela é preciso aborrecer-se nela. Pode-se seguir um guia turístico, mas fica muito por ver, e mais ainda por conhecer, não a monumental, essa é de pedra, é certo que estás cheia de historia, mas a humana, a outra, Tu, o mais grande do Porto.

Recordando-A desde a Valência do Cid Campeador














Com a participação e apoio de Maria José Dias Rodrigues

sábado, 12 de diciembre de 2009

AO MEU PORTO ( IV de V )




O meu pensamento voa como um pássaro, entre as árvores do Palácio de Cristal, sem saber donde pousar-se, com tanto de belo para ver. Observo que, por instantes, da superfície do Douro começa a elevar-se uma capa de vapor, o Douro parece que fumega! Ao longe vejo como uma mancha branquíssima e opaca se apoderava, progressivamente, das margens do rio; foi asfixiando pouco a pouco candeeiros e edifícios, até fazer desaparecer tudo e envolver-me. A ponte da Arrábida parecia retroceder, como empurrada por uma força irresistível. O encanto daquela paisagem quebrou-se. É como se uma plácida noite de Outono se convertesse em algo sobrenatural, tão pálida como preta, tão transparente como impenetrável, deixando no vazio um longo traço opaco, até que me senti envolvido num véu de fantasia: só me rodeava o nevoeiro, tudo desapareceu pelo encantamento da fada mais terrível.







No verão estes jardins recobravam vida, e os clássicos restaurantes actividade, inundando o recinto do cheirinho a sardinhas assadas, a bacalhau e a frango no churrasco. Hoje tudo isso acabou e a malta já não se vê, como dantes, a passear pela avenida das Tílias, até os espectáculos nocturnos decaíram! É certo que os teus novos jardins são muito mais amplos, mas também mais afastados. Convidam a estar em plena natureza, é o Parque da Cidade, donde se pode passar um dia em beleza com toda a família. Tudo bem, uma excelente ideia, mas recordo com nostalgia as noitadas do Palácio.








Dos jardins do Palácio de Cristal olho para, uma vez mais, deleitar-me com algumas das imagens mais belas que possuis;
o rio, o Solar do vinho do Porto, o museu Romântico, a ponte da Arrábida, Miragaia, Massarelos; estendo os olhos até a Afurada, e da corcunda do Cabedelo à Foz.






Só no Solar do vinho do Porto se podem degustar todos os caldos que dá o Douro. O ambiente é propício, silencio e aromas. O jardim de em frente é pequeno mas atractivo com perfume a rosas, sempre abertas.






O museu Romântico é duma visita obrigada, só vendo-o pode-se deduzir o que levou ao Rei Carlos Alberto a eleger o Porto como porto de abrigo, como refugio, para poder viver em paz os dias que a vida lhe concedesse.





Ao descer por Júlio Diniz, tenho que matar saudades numa visita breve às escolas do Infante, donde anos de aprendizagem me deram uma formação de garantia que tão útil me foi na vida.
O pedreiro segue ali, no fundo da rua da Torrinha, imagem inalterável, que não cumpre décadas, enquanto que eu, e o velho Infante, sim notamos o cair dos anos sobre nós. Que longe vão ficando aqueles dias que nos víamos a diário! Assim como a Rosália de Castro da praça da Galiza, mesmo em frente do Gomes Teixeira!




Mais além, o monólito imponente que nos lembra os enfrentamentos com as tropas do Napoleão, souberam, estrategicamente, vencer um exército tão poderoso, eram um punhado de valentes.




Uma avenida que parece que não tem fim, da Boavista, leva-nos até ao mar, lá está o Castelo do Queijo. Mas antes tive que passar por Serralves para observar a obra de Siza Vieira e contemplar o único museu de arte contemporâneo do Pais, que compete com os melhores do mundo. Um passeio pelos jardins de árvores frondosas, únicas; flores, de beleza incomparável; até o lago, e a casa de campo, são únicos dentro do burgo.